quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O PRECONCEITO “EVANGELICOFÓBICO”



            Sou de uma família evangélica. Meu avô (parte de mãe) foi pastor, meu pai é pastor, tenho um irmão pastor, meu outro irmão é obreiro e um excelente músico e compositor, meu sogro é um pastor, tenho um cunhado pastor e, enfim, eu sou, com muito orgulho, um pastor. Quando a família se reúne, parece reunião de obreiros! Portanto, posso escrever a vontade sobre este tema.
            Se existe um povo que sempre conviveu, e ainda convive com preconceito, somos nós, evangélicos. Isto é histórico no Brasil; desde a tentativa da chegada dos Hugenotes (protestantes franceses), que tentaram fixar-se no Brasil, como dos protestantes holandeses que foram para o Recife, até a abertura dos portos, que permitia a entrada dos evangélicos, desde que não fizessem seu “proselitismo” e, enfim, a chegada dos missionários suecos e norte americanos que trouxeram para o Brasil o que já era uma realidade nos Estados Unidos e Europa, o avivamento pentecostal.  
            O preconceito sempre existiu, às vezes transformando-se em perseguição oficiosa, principalmente no interior do país, no século passado. Nossos avós contam que, desde a proibição de vender aos “bodes” nos comércios, até aos apedrejamentos dos locais de culto e proibição aos ar livres.
            Hoje ela é mais intelectualizada, é opinada, é adjetivada, infelizmente por muitos que nem conhecem direito a história dos evangélicos e nem a sua pluralidade. Eu, particularmente, tive dificuldade em conseguir fazer minha monografia na faculdade de História, na época, pelo fato de ter escolhido um tema relacionado ao início do pentecostalismo no Rio de Janeiro ( tive que convencer à orientadora).
            Isto tudo, apesar de já sermos, segundo a pesquisa do Data Folha em julho de 2013,  30% da população brasileira ( mais de 66 milhões de evangélicos) e, sermos o segmento religioso que mais cresce.
            Existe aquele preconceito que associa evangélico apenas ao pobre e analfabeto, contudo não sabem que, somos a cara do Brasil e, portanto, temos entre nós, sim pobres, porém analfabetos, nem tanto, pelo contrário, nas igrejas estimula-se muito a leitura e , várias pessoas chegaram analfabetas nas igreja e não são mais, pois são estimuladas e ensinadas à leitura, principalmente da Bíblia; existe um número cada vez maior de evangélicos médicos, engenheiros, juízes, professores universitários, oficiais de forças armadas, atletas, políticos, músicos, empresários, artistas, enfim, como todo brasileiro.
Tenho percebido, nestes últimos dias, a postura “evangelicofóbica” com relação aos candidatos evangélicos à Presidência da República. Ainda mais em se tratando do fato  de que a candidata lidera, no segundo turno, a corrida presidencial.
Não obstante o IBOPE ter feito uma pesquisa e ter demonstrado que a maioria dos brasileiros ( não apenas os evangélicos), são contra o casamento gay,o aborto e a liberação das drogas, contudo, a imprensa está sempre associando estes temas aos evangélicos e à candidata evangélica.
Um outro preconceito descarado foi o fato de uma jornalista criticar o hábito da candidata sempre ler a Bíblia, como fonte orientadora para tomar as suas decisões. Ora, ninguém questionou as outras fontes que os outros candidatos consultam.
Creio, sinceramente que, só o fato de ser evangélico não é suficiente para que tenhamos um bom governante. É sim, prioritário. Entre dois candidatos coerentes, se um deles for evangélico, a nossa preferência deve ser para ele(a). Agora, além de evangélico este candidato(a) deve preservar os valores reais do Cristianismo, mesmo sabendo que estamos num país laico, contudo, existem valores que apontam para a própria construção ou desconstrução da sociedade. Além disto, existem os valores éticos e morais.
O propósito deste texto não é nem avaliar se esta candidata é a melhor opção ou não, mas sim apresentar o fato de que, não há dúvidas de que ela está sofrendo preconceitos pelo fato de ser evangélica.
            Espero em Deus, que a escolha ou não dela, não esteja, nem recheada, pelo excesso de romantismo, só pelo fato de ser evangélica, nem também recheada de preconceito,pelo fato de ser evangélica. É tempo de orarmos e pedirmos discernimento a Deus, primeiro para escolhermos o que for melhor, de forma clara e objetiva; segundo, o que for melhor a longo prazo, ou seja, mesmo que não for a “escolha dos sonhos” no momento, contudo, a que for contribuir para uma mudança ou alternância no  que está aí.
            Somos cidadãos e, à medida que vamos crescendo, vamos aumentando, naturalmente a nossa participação na sociedade. Vários setores da mídia podem até não concordar com muita de nossa ideologia, porém eles vêem coerência e ativismo nelas, como ocorre em qualquer nação democrática, como nos Estados Unidos, cuja população é de maioria historicamente evangélica. Todos eles tem percebido que, assuntos como o aborto, casamento gay e liberação das drogas, são temas importantes para nós e que, podem decidir em quem iremos votar.
            Nós evangélicos, temos uma mensagem de boas novas, pois é o que significa o  nome evangelho, os que professam boas novas ( os que dentre nós não tiverem ou deturparem tal mensagem, irão dar contas a Deus disso),  portanto, o que desejamos é ser canal de benção para a nação.
            Urge que sejamos respeitados, como cidadãos que pagam seus impostos e contribuem positivamente para o bem da nação. O Brasil teve 2 Presidentes ligados ao Protestantismo: Quando Café Filho foi Presidente do Brasil em um período transitório, a imprensa não se incomodou com o fato dele ser um presbiteriano; quando Ernesto Geisel foi Presidente durante o regime militar, não houve indagações pelo fato dele ser luterano.
            Contudo, o quadro agora é outro. Os evangélicos estão crescendo assustadoramente e fazendo ouvir sua voz e os seus valores, que não são apenas nossos, mas de todo cristão, contudo, todos sabem que não somos nominais; ou somos evangélicos ou não. Isto preocupa muita gente, principalmente os que querem a destruição dos valores da família tradicional, a liberação do aborto e das drogas.
            Quem acha não existe uma perseguição oficiosa, ou, no mínimo, um preconceito aos evangélicos, está fechando os olhos para uma realidade.
Cá entre nós, mesmo que não tenhamos em nenhum dos candidatos com maiores chances de ganhar as eleições, um real defensor dos valores da família e da vida ( embora saibamos que este atual governo é o pior deles), contudo, imaginem ter uma Presidente que, além de ter tido uma infância pobre, ter estudado no mobral, ter trabalhado como empregada doméstica, depois ter conseguido se formar em História, ter feito pós graduação, ser palestrante e conhecida em vários países, ser, também evangélica, pentecostal, membro de uma Assembléia de Deus!
            Seria uma boa forma do Brasil mostrar que pode superar o preconceito e respeitar a pluralidade. Até porque ter um Presidente evangélico, não significa ter um governo evangélico, pois o Brasil é um país laico e, nós evangélicos, convivemos com isto a vida toda, pois, sempre tivemos pessoas de outras religiões governando sobre nós e, o que temos percebido é que, a candidata evangélica tem mostrado a maturidade de, durante toda a sua vida não misturar sua fé com política; pelo contrário, às vezes nós evangélicos a achamos até “evangélica de menos”. Fato é que, se os pesquisadores de direito humanos acham que as diferenças devem ser respeitadas, já é hora de começarem a respeitar aqueles que já são oficialmente, o grupo mais ativo na sociedade brasileira!
Deus abençoe o Brasil!

Pr. Cláudio César Laurindo da Silva



           

             

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