sábado, 7 de outubro de 2017

ACERCA DA MATÉRIA DA VEJA SOBRE: “ ESSA GENTE INCÔMODA”



         Há uma matéria publicada pela Veja, que está causando incômodo nos evangélicos, justamente pelo fato de que nos adjetiva como “ essa gente incômoda”. Tive acesso  à matéria, que foi escrita pelo jornalista  J.R. Guzzo, e isso por mais deu uma fonte.
            Para ser sincero, procurei, em princípio, ser imparcial, colocar-me na posição do jornalista, para tentar entender o que ele estava tentando dizer, com aquelas palavras tão fortes, como nunca vi ninguém adjetivar nenhuma religião neste país. Imagino se estas mesmas palavras fossem endereçadas a uma religião afro brasileira, ou à Igreja Romana, seria, com certeza, destaque em TV e em outros jornais e revistas. Daí eu tentar entender o que ele estava tentando dizer. Ora, o fato de não ter incomodado a ninguém, senão só aos evangélicos, de certa forma, confirmou que este preconceito citado no texto, de fato exista contra nós,
            Sabe, foi dessa maneira que tentei interpretar, no início esta matéria, ou seja, imaginei o autor se colocando no lugar da “elite pensante, mais civilizada, as mais altas,  os mais esclarecidos” e que, segundo o autor, compõem, em sua maioria, a elite rica, e esquerda nacional. Eu particularmente chamo de “burguesia marxista”, e o pejorativo é proposital. Ou seja, tentei imaginar o autor interpretando, o que essa gente que domina culturalmente o Brasil, pensa acerca dos evangélicos.
            Só que, a medida que o texto vai tendo a sua continuidade, comecei a perceber que, este autor, de certa maneira, também se inclui nesta “elite”, nessa “gente do bem”. Ou seja, para esse autor, a fé evangélica também é incômoda. Antes de mais nada, todos sabem que, em qualquer setor da sociedade existem os maus e os bons exemplos, e nem por isso iremos manchar o todo por causa dos maus exemplos. Não desejo encobertar os maus exemplos, sei que existem joios no meio do trigo, agora, para quem leu o texto, percebeu-se, claramente, um enorme preconceito conceitual e de causa.
            Houve, de forma muito infeliz, uma contraposição entre o que ele chamou de “gente bem”, em detrimento dos evangélicos, que ele adjetivou como “moreno”, “brasileiro”, e que é “visto com crescente horror”, pela elite “esclarecida, politizada, cultural”, dentre outras coisas. Em outras palavras, os evangélicos, em geral, não tem essas qualidades. Mais infeliz foi afirmar que somos vistos com antipatia e irritação, e que somos um “problema sem solução”.
            Percebi, claramente, que além do autor do texto não ter conhecimento prático e real sobre os evangélicos, ele foi preconceituoso ao colocar, praticamente todos no mesmo barco, ou seja, para ele “ o joio é tanto, que nem dá para enxergar o trigo”, querendo dizer que, na sua quase totalidade, as igrejas são formadas por líderes charlatões, que exploram a fé alheia. Chegou a sugerir ( não sei se ironicamente), a possibilidade de um controle por parte da OAB, CNBB e Direitos Humanos, acerca da existência das igrejas. Isso foi ridículo, pois o Brasil, além de um país laico, tem liberdade de culto. A frase do texto que diz: “ É um desapontamento, sem dúvida – e as cabeças corretas deste país, ficam impacientes com a frustração de ver os cultos evangélicos crescendo”, fala por si só.
            Foi infeliz ao comparar Nova Iorque com Brasil, dizendo que lá, os teatros estão cheios e não há preconceitos, em comparação com os templos no Brasil.
            Bom, quanto ao fato de chamar de “moreno” e “brasileiro”, a grande maioria dos evangélicos, embora creio que o propósito tenha sido o de expressar o que a “elite cultural esquerdista” pensa sobre nós, na verdade, isso só vem a significar que estamos presentes na grande maioria da população, o que não é nenhum problema para nós. Agora, comparar-nos com a “gente bem”, ou seja nos excluindo disso, foi um preconceito sem tamanho. Já que gostam de usar, estes termos, chegou ao limite do “evangelicofóbico”, de seletismo, de sujeição á perseguição!
            Quanto ao fato de comparar com a cultura de Nova Iorque e os países mais desenvolvidos, talvez esse autor não saiba que, a cultura norte americana tem uma fortíssima influência evangélica na sua história. Até as decisões políticas tiveram influência nas igrejas evangélicas, onde tomavam as suas principais decisões nas Assembléias das igrejas. Sim, a América do Norte foi colonizada por 13 colônias de evangélicos, os puritanos e Quakers. Muitas das crianças norte americanas, no início da colonização de povoamento, aprenderam a ler com a Bíblia. Quase a totalidade dos Presidentes dos Estados Unidos foram de origem Protestante. O fundador da maior Universidade do mundo, a Harvard, foi o pastor da Igreja Congregacional John Harvard, os maiores cantores da música norte americana, vieram das igrejas evangélicas norte americanas, dentre eles Elvis Presley, que foi batizado na Assembléia de Deus norte americana. O Protestantismo na Europa proporcionou um enorme desenvolvimento cultural, filosófico e econômico, em detrimento do medievalismo que ainda dominava a cultura da igreja romana medieval, vide Inglaterra, Alemanha, Suíça e Holanda, que aderiram á Reforma.
            Enfim, concluo que, o próprio entendimento deste jornalista, com relação aos evangélicos no Brasil, é equivocado, como o é de grande parte da “elite cultural” deste páis. Sim, somos o povo “moreno”, “brasileiro”, e com muito orgulho, sim, temos agricultores, pedreiros, carpinteiros, faxineiros, lixeiros, dentre tantos outros profissionais, com muito orgulho. Temos gente que não teve condições de estudar. Contudo, temos muitos,e cada vez mais, professores, advogados, juízes, médicos, enfermeiros, militares ( praças e oficiais), escritores, esteticistas, contadores, atletas, jornalistas, músicos, artistas, políticos, dentre tantas outras áreas que poderiam ser citadas. Somos brasileiros, presentes em todos os setores da sociedade. Pagamos nossos impostos, temos sido canais de Deus para a recuperação de milhões de pessoas, que tem saído das drogas, dentre outros vícios; temos pregado que o cidadão deve cumprir com seus deveres de cidadão. Temos visto várias famílias serem abençoadas.
            O que será que incomoda tanto? Serão os valores absolutos da sociedade, dos quais nós não abrimos mão? Tais como, Deus, família e pátria? Será porque não concordamos com o aborto? Será porque não concordamos com a destruição moral das nossas crianças? E o pior para eles, nós somos, na grande maioria, praticantes, ou seja, não somos “meio evangélicos”; não pertencemos a mais de uma religião, como a maioria dos brasileiros. 
            Numa coisa este autor acertou, somos a religião que mais cresce no Brasil, e, com certeza já estamos numa proporção maior do que a teoria tem mostrado nas pesquisas. É só observar a influência da cultura evangélica no país. Se o fato de ser o que somos, incomoda, tenho a notícia de que, então vamos continuar “ incomodando”, não porque queremos, mas porque não vamos negar a nossa fé! Se existem falsas igrejas e falsos líderes, eles vão dar contas a Deus. Jamais fomos coniventes  com falsos pastores. A grande maioria dos evangélicos é composta por igrejas sérias, pastores humildes, que vivem no meio do seu rebanho.
            Tenho muito orgulho de pertencer a uma família de evangélicos ( não somos nem melhores e nem piores do que ninguém). Também tenho muito orgulho de ter vários pastores. Já convivi com algum tipo de preconceito de opinião, neste país que ainda não está sabendo conviver com a realidade de que, evangélicos aqui, já não são os “de fora” querendo “mudar a cultura”. Não, na verdade, já somos cultura também neste país! Se isso incomoda ou não, é um fato! De qualquer maneira, quero dizer a esta elite, que tenha um pouco de paciência, pois estamos aqui de passagem. Breve Cristo virá arrebatar a Sua Igreja. Melhor se eles entregarem suas vidas a Jesus enquanto há tempo, pois não existem privilegiados. Jesus ama a todos.
Que Deus nos abençoe!


Por: Cláudio César Laurindo da Silva ( Pastor Evangélico da Assembléia de Deus, gente incômoda). 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O PROCESSO DE ADORAÇÃO NA HUMANIDADE


            Embora, a ordem “evolutiva” do processo de adoração de povos e tribos apresentada pela sociologia e História das religiões seja o inverso do que a Bíblia apresenta, todavia, ela nos mostra aspectos muito interessantes. Pesquisas nesta área, dizem que o processo de adoração começou no animismo, desenvolvendo para o politeísmo, depois henoteísmo, até que chegou ao monoteísmo, por fim, monoteísmo ético. Claro que, segundo a Bíblia, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, portanto, já foi criado com a revelação do monoteísmo, porém, foi a entrada do pecado no mundo que separou-o da comunhão com o Eterno. Esse distanciamento dos povos, de Deus, foi que fez com que a humanidade procurasse respostas que dessem sentido à adoração, que está inerente em cada indivíduo.
            De fato, o animismo mostrou-se como uma das mais antigas formas de culto e adoração na História da humanidade. Ele atribui ao cosmos, à natureza, e a todo ser vivo, essência espiritual, ou  “ânima”, capaz de ser venerada ou adorada. Daí a adoração à natureza e aos seres vivos, bem como aos astros. Essa forma de adoração ainda é presente em muitas religiões.
            O  politeísmo era uma prática comum nos reinos e impérios da idade antiga. Povos cananeus, filisteus, império egípcio, assírio, babilônico, tinham tais práticas religiosas. O politeísmo constitui na crença de vários deuses e o culto a eles. Normalmente eram adorados através de imagens de escultura, feitas de pedras, ou madeiras, ou metais, como ouro ou prata. Poderiam ter a imagem de seres humanos ou animais, ou a mistura de ambos. Deus proibiu veementemente aos israelitas construírem tais imagens e prestarem culto a elas. Ex 20: 4 ; Dt 5:8.
É valido lembrar que, as imagens construídas pelos judeus, tanto no propiciatório e na Arca, como a serpente de bronze, nada tem a ver com a prática da idolatria politeísta. Nestes casos, não se viam os judeus se prostrando, nem fazendo orações, clamores, promessas, ou atribuindo, nem à Arca e nem ao propiciatório as bênçãos alcançadas. Não se ouvia: “ Ó propiciatório, interceda por mim”, ou “ propiciatório santíssimo, clamo a ti”. Não. A Arca era, tão somente, uma representação da glória de Deus, e o propiciatório, a sua cobertura. Portanto, não eram representações simbólicas de criaturas. Não se orava, nem à Arca e nem ao propiciatório. Portanto, querer justificar preces, orações, mediações e intercessões às imagens de escultura, usando estes textos como exemplo, afirmando que não se pratica idolatria, é um argumento antigo e frágil! Não subsiste a mais simples análise verdadeiramente teológica! Deus não autoriza tal ato, mesmo que seja de pessoas que tenham sido verdadeiramente cristãs no passado!  
            O henoteísmo significava que, embora cria-se que existe um deus superior, ou na teoria, exista um único deus, todavia, admitia-se a existência ou a importância de deuses inferiores,ou imediatos, que estivessem mais “próximos”, ou ainda que, dentre os vários deuses, existia um que fosse maior do que os outros. Os gnósticos eram adeptos destas crenças. Os gregos, na prática, admitiam tais práticas, pois, mesmo que chamassem a Zeus de o deus maior, contudo, eles tinham outros deuses intermediários, que cuidavam de assuntos mais próximos, como por exemplo, hades, deus do submundo, cronos deus o tempo, da agricultura, poseidom deus dos mares e oceanos, e por aí. Max Muller ao citar tal termo, chegou a afirmar a possibilidade de alguns ramos do monoteísmo, embora afirmarem crer em um único deus, todavia, estabelecerem deuses inferiores, para relações mais próximas e imediatas, mesmo que não queiram admitir, na teoria.
            Creio, particularmente que, quando um grupo religioso, mesmo que afirme crer em um único Deus, todavia evoca, crê, clama, pede a intermediação, e atribui a este intermediário, ou suposto intercessor, o mérito da bênção alcançada, na prática, está dando a estes intercessores, atributos divinos, mesmo que inferiores. A intercessão verdadeiramente bíblica, jamais irá fazer com que o irmão que será nosso intercessor vire motivo de nosso culto, oração e nem promessa; jamais atribuiremos a ele (a) o mérito da bênção alcançada.  Quando isso ocorre, na verdade, estamos praticando, não apenas uma idolatria, mas também, admitindo que, embora eu creia em um único Deus, contudo, existem “deuses” inferiores capazes de ouvirem minha oração ( mesmo em pensamentos), e atenderem ao meu pedido.
            A intercessão verdadeiramente bíblica é quando, meu irmão, junto comigo, clama a Deus e, jamais eu clamando, ou orando, ou cultuando ao meu irmão, ainda mais se este irmão já morreu, pois a Bíblia proíbe a consulta a mortos ( Dt 18:9-11). Sempre digo que, a desculpa  da unidade do corpo de Cristo não pode ser usada para justificar tal ato. Quem já partiu, completou a sua carreira com relação a este mundo, e está aguardando o dia da volta de Cristo e seu galardão ( Ap 6: 10,11 ; Ap 14:13 ; II TM 4: 6-8 ).
            O monoteísmo significa a crença na existência de um só Deus, e a adoração e o culto, e a oração feitas somente a Ele. Foi o judaísmo quem nos deu, de forma sistemática, o estabelecimento do monoteísmo. Desde Gênesis, este Deus único apresenta-se como criador de todas as coisas, relacionando-se com pessoas, tais como Adão, Abel, Enoque, Noé, Melquizedeque, até que se revela a Abrão, e, a partir dele, promete levantar um povo, que seria o seu povo na terra, em quem faria cumprir a gloriosa promessa de enviar o Salvador da humanidade. Sim, este é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
            Embora, este único Deus se manifeste, de forma inferente, de um modo pluralista, porém equipotencial e único no Antigo Testamento, contudo, é no Novo Testamento, que esta manifestação é revelada, sim de forma referente, através de Jesus Cristo, o Deus revelado. Sim, um único Deus, na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não são três deuses, pois senão seria politeísmo; não é um Deus maior e um deus menor, pois senão seria henoteismo. Cremos em um único Deus, em natureza e substância, porém na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sim, somos monoteístas!
            Esse único Deus intervém, age, interage, ama, julga, galardoa e condena, ou seja, isso é um monoteísmo ético. Um Deus que não apenas criou e abandonou, pois não é Deísmo. É Teismo, Monoteísmo ético.
            Somente a Deus eu presto o meu culto, faço minhas orações, me prostro, adoro, me consagro, chamo de digno de louvor, ofereço minha latréia, o meu proskúneo, a minha dulia litúrgica. O Pai ouve a minha oração, feita em nome, na mediação e intercessão de Jesus, e, mesmo eu não sabendo como devo pedir, o Espírito Santo intercede por mim, com gemidos inexprimíveis ( Dt 6:4 ; Mt 4: 10 ; I Tm 2:5 ; Hb 7:25 ; Rm 8: 26 ). Isso para mim é suficiente na revelação do culto, da adoração e da fé cristã! Isso é Cristianismo bíblico!



Pr. Cláudio César Laurindo da Silva