Existem
dois exemplos clássicos de instituições religiosas que perderam a sua visão de
Reino e a sua verdadeira legitimidade como defensores da Palavra de Deus. Uma
estava relacionada ao Judaísmo e à Lei de Moisés e outra relacionada ao
Cristianismo e à Bíblia, no todo.
O
primeiro, foi o Sinédrio, que, embora no início tivesse tido uma importante
função religiosa e social entre os judeus, contudo, aos poucos, tornou-se, um órgão
político- religioso, composto por doutores da Lei,incluindo sacerdotes e outras
autoridades do judaísmo, principalmente entre fariseus, que sentiam-se os
verdadeiros “representantes” da Lei de Moisés. A aproximação ao Império Romano,
por troca de seus interesses, a super valorização á uma tradição humana, em
detrimento da verdadeira interpretação das Escrituras, a perda do amor ao próximo,
o julgamento frio e preconceituoso com relação aos samaritanos e aos gentios, o
encobrimento dos pecados de seus líderes religiosos, dentre outras coisas,
fizeram com que Jesus se posicionasse de forma muito severa contra eles. Embora
se considerassem os mais “ortodoxos” da
lei, eles acrescentaram ao texto sagrado uma série de tradições humanas, que
foram chamadas de Talmude. Era um jugo pesado, que, eles mesmos não suportavam,
mas obrigavam seus liderados a suportarem. O desejo pelo poder político -
religioso, junto ao império, justificava a falta de amor e misericórdia para
com seus pobres irmãos judeus.
Bom,
tanto João Batista, como Jesus Cristo criticaram severamente o desvio que o sinédrio
tomou nos seus rumos. É só ler Mt 23.
O
segundo, foi o processo de institucionalização e/ou aproximação entre a liderança
do Cristianismo e o Império Romano, ocorrido, principalmente, a partir do século
IV do Cristianismo, com a pseudo conversão de Constantino. Se por um lado, já
era evidente, com o afastamento histórico do Cristianismo primitivo, da pureza
inicial de sua doutrina, com esta oficial aproximação, isto acabou sendo
institucionalizado. A Igreja, cujas origens verdadeiras se deram em Jerusalém,
agora se vê diante de uma instituição romanizada. Contudo, apesar disso, Deus
sempre manteve os seus remanescentes na História.
Bom,
as principais características foram as mesmas. O poder político-religioso, o
afastamento da pureza textual do texto sagrado, e, de certa forma, o jugo
humano substituindo a simplicidade da Palavra e do culto, que eles chamaram de
tradição.
Acho
que estes dois exemplos nos dão o aviso de que, nossas instiuições
representativas são válidas, até o ponto de que não substituam a pureza da
Palavra de Deus; de que não deixemos o amor ao nosso irmão, principalmente
colega de convenção, ou sinédrio, ou bispado, seja o nome que for; que não
deixemos a sede pelo poder político eclesiástico, ou político/político mesmo,
nos cegar, pois senão alguém poderá ser capaz de tudo para atingir os seus
fins, e pior, com o nome de sagrado ou santo; que não nos julguemos tão
superiores ou “santos”, a ponto de nos precipitarmos em chamar os outros de “samaritanos”
ou “gentios”, e cairmos no erro de adjetivarmos de impuro a quem Deus pode
estar santificando; que não caiamos na síndrome de lúcifer, de querer sempre
ganhar para ganhar, e esquecermos do princípio do Reino de Deus, de que, às
vezes, ganha quem perde, quem sede, quem larga também a túnica. Que nossas instituições
não esqueçam, sim, que, junto com a
santidade, deve haver ,o juízo, a misericórdia e a fé, e, acima de tudo, o
amor, que é o vínculo da perfeição.
E,
como gosto sempre de repetir, que nenhuma função, seja mais importante do que a
unção que vem de Deus e a comunhão com nosso irmão.
Se
isso não acontecer, qualquer semelhança com os dois grupos acima citados, não
será mera coincidência. Que Deus nos guarde de chegar a este extremo.
Pr. Cláudio César Laurindo da
Silva