Podem os
cristãos que já morreram intercederem por nós? É correto os cristãos fazerem
orações aos santos, pedindo sua intercessão? O que a Bíblia diz sobre isso?
Será que a intercessão que os cristãos vivos fazem, um pelo outro, tem o mesmo
sentido dessa intercessão de comunicação com os mortos?
Bom, é importante salientar que, mesmo que fosse
possível, é, no mínimo, desnecessário, pois, se Deus enviou o seu único Filho,
que nos garante acesso direto ao Pai, pela intercessão do Espírito Santo,
então, não se trata de presunção, pois não são pelos nossos méritos, mas sim
pelos méritos de Jesus.
Em primeiro
lugar, usar o argumento de que, se existe intercessão entre os cristãos vivos,
então pode existir a intercessão entre os cristãos que vivem e os que partiram,
é uma enorme forçação de barra. A
intercessão entre os cristãos vivos,consiste no fato de que, eu oro a Deus em
favor do meu irmão, e ele também ora a Deus, por ele, e também por mim. A
Bíblia diz: “orai uns pelos outros” Tg 5:16. Não significa que eu vou orar AO
MEU IRMÃO, mas sim, ORAR A DEUS em favor do meu irmão. Ele tem acesso direto a
Deus e eu também! Quando peço que, Raquel, minha esposa ore por mim, não
significa que eu vou fazer oração à Raquel. Eu não vou me curvar à sua imagem,
ou elevar meu pensamento a ela e dizer: “Oh Raquel, rogue por mim diante de
Deus”! Não é isso. Eu oro a Deus, e ela ora a Deus. No Cristianismo bíblico,
monoteísta, somente Deus é alvo das nossas orações e culto! Paulo, escrevendo aos
Tessalonicenses, pede aos irmãos de lá, TODOS, que rogassem a Deus por eles,
para que a Palavra de Deus tivesse livre acesso ( I Tess 3:1). Esse rogar, foi
no sentido de pedir com rogos, como em Romanos: “ Rogo-vos pois irmãos,pela
compaixão de Deus, que apresenteis vossos corpos como um sacrifício, vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” Rm 12:1. Observe, Paulo
não está fazendo uma oração no sentido litúrgico aos irmãos, mas sim fazendo um
pedido com ênfase.
O
significado bíblico de santo, é amplo, e abrange a todos os que foram salvos em
Cristo e lavados pelo Seu sangue. Paulo escrevendo aos Coríntios, uma igreja
com dificuldades, que tinha em si, alguns irmãos que precisavam crescer espiritualmente,
da seguinte maneira: “à igreja de Deus
que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem
santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, Senhor deles e nosso” I Cor 1: 2. Quando ele referiu-se aos cristãos de
Roma, diz: “a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados para serdes
santos...” Rm 1: 7. No capítulo 16 da mesma carta, quando Paulo manda receber a
irmã Febe, ele pede para recebê-la “ como convém aos santos” Rm 16:2. Em
Efésios, exortando acerca da postura dos cristãos, Paulo diz: “mas a
prostituição, e toda sorte de impureza ou cobiça, nem sequer se nomeie entre
vós, como convém a santos” Ef 5:3.
Muitas
outras passagens poderiam ser usadas, todavia, estas são suficientes para
afirmar que, no contexto do Novo Testamento, a palavra santo, no seu sentido
amplo, refere-se a todos os que foram lavados pelo sangue de Jesus, e fazem
parte do Corpo de Cristo. Sim, cada cristão individualmente, é um santo e a
Igreja, como corpo, é um povo santo – I Pe 2:9. Estamos em processo crescente
de santificação, e devemos nos aprofundar a cada dia nisto. Sim, houve homens e
mulheres que desenvolveram um nível de
comunhão mais íntimo com Deus, vivendo uma vida de maior santificação, mas, em
nenhuma parte da Bíblia está escrito que deveríamos fazer preces a eles, e nem
prestar-lhes culto. Com relação a João Batista, Jesus disse: “Em verdade
vos digo que, entre os nascidos de
mulher, não surgiu outro maior do que João , o Batista, mas aquele que é o
menor no reino dos céus é maior do que ele”. Quando o apóstolo João tentou
curvar-se diante do anjo que lhe trouxe a mensagem, ele o advertiu, dizendo:
“eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as
palavras deste livro. Adora a Deus” Ap 22: 9. Quanto mais santo, mais reconhece
que não são seus méritos; quanto mais santo, mas vai dizer que o caminho é Cristo;
quanto mais santo, mais irá dizer que, devemos orar é a Deus, e não aos homens!
Em segundo
lugar, não existe base bíblica para eu pedir a intercessão de um cristão que já
morreu. A palavra de Deus proíbe, veementemente, a comunicação entre vivos e
mortos. “ nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem
mágico, nem quem consulte os mortos” Deut 18:11. A Bíblia diz que: “ ...aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo” Hb 9:27.
Na passagem
do rico e do Lazaro, quando, depois que morreu, o rico pede para que Lázaro fosse ao encontro dos parentes vivos,
foi-lhe dito: “tem Moisés e os profetas, ouçam-nos”, referindo-se ao livro da
lei e dos profetas.
Os ímpios
que morreram, estão, já no hades, esperando o dia do juízo final. Já os justos
que morreram, diz a Bíblia, estão com Cristo, descansando das suas obras, que
as acompanham, “ Ap 14:13. Paulo, já sabendo que estava prestes a partir,
disse: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé; desde agora a
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz me dará naquele
dia; e não somente a mim, mas a todos os que amarem a sua vinda” II Tm 4: 7,8.
Vocês acham
mesmo que, Deus permitiria que estes homens, depois de cumprirem as suas carreiras e estarem
descansando de suas obras, se envolvessem com os problemas e desafios daqui
deste mundo? Acham mesmo que teriam que resolver os problemas das pessoas? Isso
não seria combater o bom combate e concluir a carreira; não seria descansar de
suas obras.
Outra
questão, para que estes mortos atendessem as orações, teriam que ter a
capacidade de ouvi-las. Imagine se, uma pessoa faça uma prece a um santo, daqui
do Brasil, e outro na mesma hora, faça também uma prece da Europa, outro da
África? Para que este santo ouça, ele precisa ter atributos que só Deus possui.
A Absoluta imanência e transcedência só Deus possui. A onisciência, onipotência
e onipresença, são atributos de Deus. Pedir que um santo sonde seu coração,
cuide de sua mente e alma, chega a ser uma blasfêmia!
Terceiro,
existem alguns argumentos que são usados, que não passam pelo crivo mais
simples da interpretação bíblica. Por exemplo, o argumento de que, se existe a
unidade do corpo de Cristo com o cabeça, então, os mortos podem ter contato com
o mundo físico. Ora, a unidade do corpo, que é a Igreja, com Cristo, que é o
cabeça, não significa que a Igreja terá os atributos incomunicáveis de Cristo;
atributos estes que somente a divindade possui. Unidade com Cristo, não
significa ser o que somente Ele é, mas sim, fazer o que, por Ele nos for
delegado e permitido, sendo, na verdade, Ele quem faz e nós apenas somos
canais. Acerca da divindade, gosto sempre de lembrar uma frase do Pr. Paulo
Romero, que diz: “acerca da divindade, existem duas verdades. A primeira, há um
só Deus. A segunda, você não é Ele.
Outro texto
mal interpretado, é afirmar que Jesus Cristo, ao dizer que é o Deus de Abraão,
Isaque e Jacó, não é Deus de mortos, mas de vivos, pode ser usado como base
para orar e pedir intercessão dos mortos. A mais simples exegese do capítulo em
questão ( Mt 22: 23-33), nos irá revelar que, em momento algum Jesus Cristo
está afirmando que podemos fazer oração aos mortos e pedir deles favores.
Lucas, no
capítulo 20 e versículo 35, nos dá duas interpretações possíveis: “ mas os que
forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos
mortos”.
Ou seja, o
texto em questão está falando acerca da ressurreição, tanto é que os saduceus,
para tentarem provar a Jesus que não existe ressurreição, apresentam o
argumento da lei de Moisés, acerca da
viúva que não tiver filhos poder se casar com o irmão do marido falecido, para
gerar posteridade. Jesus responde que na ressurreição, não se casam nem se dão
em casamento, mas serão como os anjos.
Daí Jesus conclui, afirmando que,
se Abraão, Isaque e Jacó morreram e, se Deus é chamado de Deus deles, então Deus não é Deus dos mortos,
mas de vivos, reafirmando, tanto que haverá ressurreição, como, também que
eles, enquanto não têm os seus corpos ressuscitados, estão no mundo vindouro,
em vida, aguardando a ressurreição dos corpos. CONTUNDO, EM MOMENTO ALGUM JESUS
AFIRMA QUE PODE HAVER COMUNICAÇÃO ENTRE VIVOS E MORTOS E NEM QUE PODEMOS FAZER
ORAÇÕES ÀQUELES QUE JÁ MORRERAM. JESUS, APENAS AFIRMOU QUE ELES ESTÃO VIVOS!
Até porque, a passagem do rico e do Lázaro, mostra bem que não haveria a
possibilidade dele Lázaro), que estava no seio de Abraão, retornar e nem se
comunicar com os que ainda não morreram.
Sendo sincero, o que tenho notado
é que, estas orações feitas aos que já morreram, na prática, estão recheadas de
petições e atributos que a Bíblia só concede a Deus. Expressões tais como:
“cuidai dos meus caminhos, abra os meus caminhos, curai as minhas dores”.
“aquele que me defende da tentação e do demônio”. “vele por mim, cortai todo o
mal”. “me coloco sob a proteção do teu escudo”; “protegei-me e defendei-me,
pois sou um pobre pecador” “apresentai-vos como meu medianeiro junto a Jesus” (
vale lembrar que, este santo está sendo elevado à função de mediador) ; “fazei
recuar os meus inimigos que atentam contra a minha fé” ; “iluminai-me,
guiai-me, fortalecei-me, defendei-me” ; “andarei vestidos com as armas de...” (
na verdade, a Bíblia nos orienta a andarmos revestidos com as armaduras de
Deus, e não de santo algum, por mais que tenha sido um cristão fiel)
Se alguém achar que isso é apenas pedir a
intercessão de um irmão em Cristo que já partiu, junto a Deus ( mesmo que isso
em si mesmo não tenha base bíblica), as palavras destas orações dizem ao
contrário. O que, na verdade, está ocorrendo, é uma oração e um culto, com
termos que a Bíblia só aplica a Deus.
Por fim, por mais que saibamos
que, idolatria não é apenas cultuar imagens de escultura, pois o sentido de
idolatria é muito amplo, contudo, qualquer pesquisador sincero sobre idolatria
sabe que, desde os povos mais antigos, a relação entre idolatria e imagens de
escultura sempre foram muito próximas. Na verdade, a mais próxima o possível. O
ser humano sempre necessitou de algo palpável e visível em seus cultos. Ora, se
eu me curvar diante de uma imagem de escultura, fazer petição, oração, pedir
sua intercessão, fazer procissão esta imagem, e depois dizer que é só uma “lembrança”, um “retrato”, ou uma
homenagem, é querer enganar a si mesmo.
Sei muito bem a diferença de
ícone para ídolo. Fazer um desenho, ou pintura histórica sobre alguém da
Igreja, sem contudo realizar culto e nem
fazer orações, é uma coisa, agora, fazer petições, promessas, orações, pedir
sua proteção, chamá-lo de guia, escudo, é outra! Sei, também que existe a tese da dulia (
culto de serviço e homenagem), a hiper dulia (culto de serviço e súper
homenagem) e a latria ( que advogam ser somente à Deus), contudo, na prática, o
que se observa é latria mesmo, principalmente a quem dizem que é hiper dulia.
Que se
diga, também que, o fato de não concordarmos com a intercessão de quem já
morreu, não significa que não consideramos o exemplo de fé de muitos deles.
Muitos que morreram até mesmo contra a idolatria imposta pelo Imperador
Diocleciano, como o caso de Jorge. O que eu sei é que, se eles pudessem ver o
que estão fazendo com o nome deles, eles repreenderiam, e diriam: “morremos
contra a idolatria e vocês estão fazendo de mim ídolos?”. Não me venham que a
igreja medieval é inerrante, e não pode cometer heresias e equívocos, pois,
desde que virou a religião oficial do Império Romano, a História nos conta que
ela perseguiu e matou quem não se “convertia”. A “santa “ inquisição muito
perseguiu e matou também. Então, interpretar erroneamente um texto e
acrescentar, por força de tradição de instituição, algo que não existia na
igreja primitiva, seria perfeitamente possível, e foi o que aconteceu. Vale
lembrar que, a oficialização do culto aos santos só veio acontecer em 789 d.C., ou seja, no oitavo século da igreja
de romana. Não era uma doutrina da Igreja primitiva, não foi ensinada por Jesus
e nem pelos apóstolos e, foi a partir do período sub apostóslico que começou
essa discussão e durou séculos. Prefiro ficar com o modelo da Palavra de Deus e
da Igreja do primeiro século!
A Bíblia
nos orienta que podemos ir diretamente a Deus, em nome de Jesus e na intercessão
do Santo Espírito. Jo 14:13 ; Jo 16:23 ; Rm 8:26,27. A Bíblia apresenta a Jesus
Cristo como o único Mediador entre Deus e os homens – I Tm 2:5 e também como o
perfeito intercessor: “ Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por
Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por Eles” HB 7:25.
Sim, Jesus
Cristo é o nosso Salvador, o nosso Mediador e o nosso intercessor, diante do
Pai! Deus não mandaria o seu único Filho para alongar mais o caminho. Cristo
mesmo disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém ao Pai, senão for
por mim”. Isso é suficiente!
Quanto àqueles
que já partiram, como disse antes, a Bíblia diz que eles estão descansando de
suas obras, que os acompanham. Eles combateram o bom combate, completaram a sua
carreira e guardaram a sua fé! Deus não permitiria que eles fossem incomodados
com assuntos deste mundo. O que eles estão
aguardando, é a coroa da justiça, que Jesus dará naquele grande dia. Que o
Santo Espírito faça cair escamas dos olhos, para que resplandeça a luz do
verdadeiro evangelho de Cristo.
Deus nos abençoe!
Pr. Cláudio César Laurindo da Silva