A
História do Cristianismo, incluindo cristãos nominais ou verdadeiros, tem
inerente em si, uma complexidade grande no que diz respeito à interpretação do
que foi, e/ou é ortodoxo ou herético; qual grupo representa a verdadeira Igreja
e, evidentemente, qual não a representa.
Diante
de toda essa complexidade, a resposta melhor a ser dada, é, de fato, a mais
óbvia. O MODELO É A PALAVRA DE DEUS E A IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO.
Quem
buscar identificar-se a este modelo, de fato, estará identificando-se à
verdadeira Igreja do Senhor Jesus Cristo. Qualquer bispo ou autoridade
eclesiástica; qualquer instituição, por maior ou mais antiga que se considere,
terá de Jesus a autenticidade, se identificar-se à Sua Palavra.
Os
cristãos do período sub apostólico, que sofriam perseguições do Império romano,
mantinham em si, o desafio das heresias que tentavam, a toda hora, penetrar
nela, como também, o desafio de não negarem a Jesus, ainda que a custo de suas
próprias vidas.
Com
o fim da perseguição e a aproximação entre Igreja e Império Romano, observamos
a romanização, a institucionalização humana e, conseqüentemente, o crescente
processo de paganização dela. Tanto é, que é fato que, as principais oficializações,
ou dogmas da igreja romana, deram-se, a partir do IV século. O Imperador
Constantino chegou a sentar-se em lugar de destaque, durante concílios do IV
século.
Com o processo
de medievalização da igreja romana, os
dogmas só aumentaram, a Bíblia tornava-se cada vez mais elitizada e a
autoridade da instituição tornou-se tão forte quanto a própria Palavra de Deus,
segundo o pensamento deles. Quem discordava do pensamento clérico medieval era
julgado e “santamente” condenado à morte. A História não nos deixa mentir,
muitos foram os queimados na fogueira da “santa inquisição”.
Daí
se pergunta: Onde estava a verdadeira Igreja? Resposta: Estava viva, inclusa,
em sua dimensão espiritual, como corpo de Cristo; não uma mera organização, mas
um organismo vivo, que tentava manter, a todo custo, o modelo primitivo, mesmo
com suas muitas limitações, até porque, a igreja romana, medieval, proibiu aos
leigos a leitura da Bíblia e, muito menos a sua interpretação. É importante que
se diga que, dentre leigos e sacerdotes, houve, através da história, cristãos
que discordavam do modelo cada vez mais paganizado e afastado do modelo
primitivo, porém foram duramente perseguidos. A isso, muitos teólogos chamam de
pré reformadores.
Não
podemos esquecer que, no Oriente, os patriarcas discordavam de muitos itens da
igreja do ocidente, inclusive da autoridade suprema do líder religioso de Roma,
o Papa. Um ponto divergente, que talvez fosse considerado de menor importância,
a questão se, o pão deveria ser ou não levedado, foi a gota d’água para o Cisma
de 1054. Vale lembrar que, a igreja grega recusava imagens de santos, mas só
permitiam os ícones de Jesus, como sinal de reverência, e apenas como símbolo.
Um
importante personagem de transição na História do Cristianismo foi Martino
Lutero, pois as conseqüências de sua influência atingiram, não apenas o mundo
religioso, mas, também, cultural, político e, de certo modo, até geográfico.
Não, a Reforma
não começou em Lutero, pois houve, a preço de sangue nas mãos dos que instituíram
a “santa inquisição”, muitos pré reformadores. Em destaque, cerca de 100 anos
antes de Lutero, John Hus profetizou, momentos antes de sua morte: “vais assar
um ganso ( Hus na língua boêmia),porém, dentro de um século se encontrarão com
um cisne, que não poderão, nem assar e nem cozer”. Hus morreu queimado vivo, na
fogueira da igreja romana, segundo a história, cantando um salmo, contudo, 102
anos depois Lutero pregou as suas 95 teses.
Não, a Reforma
de Lutero não foi completa, bem como a
de outros reformadores também não foi. Eles foram, na verdade, homens
sinceros que, debaixo do contexto em que se encontravam e com a formação que
tiveram ( inclusive boa parte deles eram cléricos), buscaram retornar, ou
melhor dizendo, descobrir o modelo do verdadeiro Cristianismo.
Não tentem
atribuir o modelo aos reformadores. Eles mesmos não quiseram para si este
título. Na verdade, o que eles queriam era mostrar que, O MODELO É A PALAVRA DE
DEUS E A IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO. Não, não somos filhos de Lutero, ou de Zwinglio,
ou de Calvino, somos filhos de Deus, contudo, louvamos a Deus pelo exemplo que
estes homens deixaram, pelo fato de que
resistiram a um sistema político eclesiástico que dominava o mundo, em busca da
aproximação com a Palavra de Deus.
Sim, estes homens
falharam e, nenhum deles fez uma reforma completa. Sim, a maioria deles ainda
guardou ranços do romanismo, pois viveram neles a vida toda. Não pensem, os
defensores da tese de que, Lutero, ou Zwinglio, ou Calvino mantiveram algumas
doutrinas romanistas, seja fato para descredenciar os cristãos evangélicos que
são contra tais doutrinas. O que é importante para nós é o fato de que, eles
avançaram no caminho de aproximação de um modelo bíblico de Cristianismo, pois,
mesmo que, por exemplo Lutero não tenha feito uma reforma profunda no que diz
respeito, por exemplo à doutrina mariana, ou melhor mariólatra, contudo, ele
acertou quando afirmou que Cristo e não o Papa é a autoridade máxima da Igreja;
ele acertou quando defendeu a Bíblia para os leigos, o que era proibido na
época; ele acertou quando traduziu a Bíblia em alemão; ele acertou quando
afirmou que é a graça, mediante a fé, que traz salvação, e não as obras; ele
acertou; ele acertou quando transformou um sistema de culto meramente distante
e frio, num sistema simples, com participação de leigos e cânticos; ele acertou
quando permitiu os sacerdotes casarem; ele acertou quando pregou as 95 teses,
que criticavam a ostentação e exploração da igreja romana sobre os mais simples;
ele acertou quando refugiou-se no Castelo de Wartburg; ele acertou quando
compôs o hino Castelo forte, enfim, ele acertou em algumas coisas e errou em
outras, contudo, não se pode negar o seu esforço por tentar uma
aproximação com o modelo bíblico de
Igreja.
O
mesmo poderíamos dizer de Zwinglio, que também errou em algumas coisas, mas
acertou, quando defendeu um culto mais simples, sem imagens de escultura,
embora não tenha tido uma doutrina totalmente independente da igreja romana
quanto à questão mariana, contudo, o fato de que defendia a perpetuação da
virgindade de Maria, não tenha significado a autorização para o uso de imagens
de Maria e nem a mediação dela, haja vista que, Zwinglio defendia um modelo
simples de culto.
Enfim,
não tenho espaço para detalhar, mas, o mesmo diríamos de Calvino. Errou em algumas
coisas e acertou em outras; além das Institutas, que defendiam a predestinação,
Calvino aboliu o uso de imagens dos santos e o culto à virgem, embora alguns
afirmem que continuou crendo em sua virgindade perpétua, ou seja, mesmo que
Calvino acreditasse que Maria não tivesse tido outros filhos, contudo, o fato é
que, ele defendia que, as imagens deveriam ser retiradas ( incluindo a de
Maria) e que orações e culto deveriam ser somente a Deus.
Enfim,
neste propósito de busca do modelo bíblico, Deus permitiu que se levantassem,
aquilo que eu chamo de pós reformadores, ou seja, aqueles que defenderam uma
reforma mais profunda, ou, como alguns gostam de designar, mais radical. Foi a
reforma na Reforma. No luteranismo, surgiram os pietistas; no anglicanismo, os
puritanos e metodistas , e por aí vai.
E
o que dizer do chamado avivamento dos irmãos Wesley, Que acabou,
posteriormente, influenciando, de alguma maneira, o chamado pentecostalismo clássico, do final do
séc. XIX e início o séc, XX. No Brasil,
a vinda de dois missionários suecos, que residiam nos Estados Unidos, permitiu
a fundação das Assembléias de Deus.
O
tempo passa e, a dinâmica continua; igrejas são fundadas; umas buscando o
modelo encontrado na Palavra de Deus, e outras não, contudo, fato é que, desde
as mais remotas datas, a Igreja do Senhor, que é o corpo, místico, universal,
espalhado nos 4 cantos da terra, continuará firme, estando ela num período de
grande fogaréu, ou apenas numa centelha, porém, apagar, Deus nunca permitirá.
Os homens e
mulheres levantados por Deus, com suas limitações, foram importantes, contudo,
não devem ser eles o nosso modelo absoluto. O modelo continua na Palavra de
Deus, e a verdadeira Igreja começou em Jerusalém, e não em Roma ou Constantinopla.
Qualquer
igreja local, cujos membros procurarem viver dentro do modelo da Bíblia sagrada
e tomando como exemplo, a igreja primitiva, principalmente do primeiro século,
estará reproduzindo o bom cheiro do perfume de Cristo, sendo, portanto, participante
da VERDADEIRA IGREJA, sim, o organismo vivo de Cristo na terra e que vai morar
no céu.
Saudações em Cristo, o cabeça da
Igreja.
Pr. Cláudio César Laurindo da
Silva.